Nos últimos anos, o plano de saúde dos servidores públicos do Tocantins, o Plansaúde, tem ocupado manchetes de forma negativa e sido tema de debates entre servidores, Governo do Estado e prestadores de serviço por causa de falhas, demora ou até mesmo suspensão na prestação dos serviços.
O Plansaúde atende mais de 80 mil usuários, entre servidores e dependentes, sendo o maior plano de saúde do estado. O servidor contribui com uma mensalidade fixa, além de uma comparticipação quando utiliza os serviços. Já o Governo arca com metade dos custos dos atendimentos e é também responsável pela gestão administrativa do plano.
O debate é apimentado quando o usuário do plano não consegue o atendimento desejado na rede conveniada ou sofre com a demora na autorização de algum procedimento.
Os servidores reclamam, e com razão, pois pagam mensalmente o custeio do plano, mas não conseguem atendimento com a agilidade que desejam ou por falta de determinada especialidade médica na sua região.
Já os prestadores de serviço reclamam da demora nos pagamentos por parte do Estado. E o Governo, seja ele qual for o ocupante da principal cadeira do Palácio Araguaia, sempre olhou com desconfiança para os valores das faturas apresentadas pelos prestadores de serviço.
Por isso, em janeiro deste ano, a empresa Santorini Health Inteligência em Saúde Ltda. foi contratada para fazer uma auditoria externa, por ser especializada em analisar a documentação relativa a essas cobranças e averiguar tecnicamente as faturas hospitalares que são remetidas para recebimento dos valores junto a planos de saúde.
Parte dessa auditoria já foi apresentada ao Governo do Estado e inspecionou guias e demais documentos relativos a essas cobranças de abril de 2017 a abril de 2020.
Os dados apresentados impressionam, tanto pelo volume de dinheiro cobrado como pelo índice de glosa, como é chamado o procedimento que exclui do pagamento aquela guia que pode conter alguma inconsistência.
80% DE INCONSISTÊNCIAS NAS GUIAS
De acordo com os documentos que a reportagem teve acesso, todos os prestadores de serviços tiveram suas faturas contestadas pela auditoria, no que diz respeito ao tipo de cobrança relativa ao atendimento ou tratamento oferecido aos pacientes/usuários.
Em alguns casos, a glosa chega a mais de 80% do total de faturas enviadas para pagamento. Ou seja, é possiblidade, dependendo do prestador de serviço, que de cada 10 guias com cobranças enviadas ao Plansaúde, oito delas possuam informações inconsistentes, que levam os auditores a não autorizar seu pagamento, em virtude de que o tratamento ofertado pode estar em desacordo com a condição clínica do paciente, por exemplo.
Segundo a auditoria, o normal nos demais planos de saúde do país é uma glosa entre 12 e 15%. “A avaliação dos resultados obtidos até o momento mostra distorção relevante nos prestadores auditados conforme citado acima e relatórios analíticos anexos. Considera-se um percentual de 12 a 15% de glosa um valor aceitável para prestadores que não são submetidos à pré-análise de faturas (como era o caso do Plansaúde/Servir à época dos faturamentos enviados) já que a fatura hospitalar (conta) é enviada sem qualquer avaliação ou revisão prévia, seja ela de cunho administrativo, financeiro ou técnico”, observam os auditores.