O governador afastado do Tocantins, Mauro Carlesse (PSL), está sendo investigado pela Polícia Federal por suspeita de tentar comprar terrenos no entorno do Jalapão com a finalidade de lavar dinheiro obtido por esquemas de corrupção dentro do governo estadual. Por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ele está afastado da posição desde outubro de 2021.
A PF encontrou uma propriedade adquirida por uma pessoa ligada a Carlesse, possivelmente usada como laranja do governador. Informaçõesforam obtidas no Extra.
O terreno de 1.399 hectares fica no mesmo município que o Parque Estadual do Jalapão, em Mateiros. De acordo com escritura lavrada em cartório, foi comprado em julho de 2021 por R$ 2 milhões.
A transação foi feita por meio de uma empresa da qual o governador era o dono e que estava sob responsabilidade de um aliado. Essa, entre outras provas reunidas pela PF, apontam que ele é o verdadeiro proprietário do campo.
“A operação foi realizada por meio da empresa Maximuss Participações SA, na pessoa do seu diretor presidente, Erick de Oliveira Araújo, que possui renda de R$ 13.000,00 mensais e ingressou no quadro societário da empresa Maximuss Participações S/A, no mesmo dia em que Mauro Carlesse deixou de fazer parte”, diz trecho da investigação.
Ao consultar moradores da região, a PF descobriu que o pai de um secretário da gestão do governador também esteve em busca de terrenos.
“A informação mais relevante e que chamou a atenção dos policiais foi que todos entrevistados foram uníssonos em afirmar que Luiz de Souza Barbosa estava comprando terras a ‘rodo’ (expressão utilizada para indicar grande quantidade) naquele município e no seu entorno para o governador do estado do Tocantins, Mauro Carlesse” , observa o relatório da PF. O inquérito está a procura das outras propriedades adquiridas.
Carlesse teria atuado diretamente para alterar a estrutura do Parque e foi criticado por representantes de populações tradicionais e ambientalistas. Entre as medidas propostas, estava uma lei de privatização da gestão do local.
No dia 28 de julho do ano passado, uma semana após a compra do terreno, Carlesse assinou um contrato para a construção de um aeroporto no município de São Félix do Tocantins, na região. A privatização, por sua vez, foi sancionada em agosto.
As ações, em conjunto, trariam maior valor comercial aos terrenos adquiridos na região, o que geraria lucros para o governador na hipótese de ele ser o dono dos imóveis. Ao mesmo tempo, aumentariam a degradação da área protegida.
Esses foram os fatos observados pelo ministro do STJ Mauro Campbell para determinar o afastamento de Carlesse por 180 dias. A investigação tramita sob sigilo. O Ministério Público Federal no Tocantins propôs uma ação civil pública em agosto de 2021 para impedir o processo de privatização, sob o argumento de que não houve consulta prévia nem diálogo com as sete comunidades quilombolas locais.
De acordo com Railane Ribeiro da Silva, presidente da Associação de Moradores da Comunidade Mumbuca, território quilombola no Jalapão, o fluxo de turistas já estava danificando as dunas. “Com a privatização, o fluxo de pessoas aqui seria dez vezes maior. Ia acabar com tudo” afirma.
A defesa de Carlesse, porém, nega as irregularidades e diz que o responsável pela compra do terreno no Jalapão foi Erick de Oliveira Araújo. Alega ainda que a concessão do parque à iniciativa privada “faz parte do plano nacional de expansão e incentivo ao turismo”, que foi divulgado há anos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e pela imprensa, e que a construção do aeroporto estava prevista desde 2001.
O advogado Nabor Bulhões afirma que “a defesa desmontou o amontoado de especulações da PF e do MPF” contra seu cliente.