O desembargador Adriano Roberto Linhares Camargo foi suspenso cautelarmente do cargo, segundo o Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO). A suspensão aconteceu após a fala em defesa do fim da Polícia Militar (PM) feita durante uma seção criminal do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO).
A reportagem solicitou informações à Associação dos Magistrados de Goiás (Asmego), mas não teve retorno até a última atualização desta reportagem. Depois da repercussão da fala, o governador Ronaldo Caiado (UB) chamou o magistrado de “inconsequente” e pediu o impeachment dele.
Segundo o TJ-GO, a proposta da suspensão cautelar foi do presidente Carlos Alberto França, com base no Conselho Nacional de Justiça. A proposta foi aprovada no Órgão Especial, em sessão extraordinária na manhã desta segunda-feira (6).
O comunicado divulgado pelo TJ-GO explica que a decisão tomada pelo Órgão Especial vai vigorar até a decisão sobre a abertura ou não de processo administrativo disciplinar, quando o colegiado deve examinar novamente a questão.
Fim da Polícia Militar
As falas de Camargo aconteceram na manhã desta quarta-feira (1º) durante uma sessão de julgamento do TJGO, que era transmitida ao vivo (assista vídeo abaixo). No vídeo, o desembargador comenta sobre os abusos e os excessos durante operações policiais e, neste momento, diz que a PM é despreparada.
“Isso não pode mais se repetir e, aliás, aqui vai uma reflexão pessoal, para mim, tem que acabar com a Polícia Militar, para mim”, afirma.
Camargo alega que a corporação é uma reserva técnica do Exército e que o papel dela é enfrentar inimigos. “Por isso vemos abusos e excessos seguidos e recorrentes. A PMGO é invisível”, completa. O desembargador diz ainda que deve instituir uma forma diferente para atuar na investigação e repressão ao crime.
“Vejam nos jornais a quantidade de confrontos e ninguém leva um tiro. Morrem 4, 5 e 6 e isso não é por preparo, nós sabemos porque é”, finaliza.
Pedido de impeachment
Após a repercussão das falas do desembargador, o governador, que está em viagem internacional, publicou nesta quinta-feira (2) um vídeo nas redes sociais em que se posiciona sobre os comentários de Camargo. Caiado afirma que a opinião do desembargador é uma agressão à PM e um atentado à Constituição Brasileira.
“São as maiores agressões e, sem dúvida, um verdadeiro crime contra a Polícia Militar, que eu tenho orgulho em ser o comandante chefe”, destaca.
Caiado questiona os conhecimentos de Camargo a respeito da Constituição Brasileira, que prevê a criação da PM para garantir o estado democrático de direito. “Ao pedir a extinção da nossa PM, você está atentando contra o estado democrático de direito ou está cooptado por outras forças do crime”, afirma o governador.
No vídeo, Caiado ainda pede respeito à PM. “Sua fala deve ser avaliada pelo conselho de ética do tribunal, que deve lhe impor impeachment, pois você não tem qualidades mínimas para responder com o título de desembargador”, diz. O governador ainda chama Camargo de agressivo e inconsequente.
“Você é um cidadão desrespeitoso, agressivo, inconsequente e que precisa aprender que não é [...] em um julgamento você emite sua opinião”, enfatiza.
Por fim, Caiado destaca que responde pela PM e que as críticas devem ser direcionadas a ele. “Mandei o procurador geral construir um documento ao corregedor para que as penas sejam muito bem aplicadas em um cidadão que não tem a qualificação mínima de ser desembargador”, finaliza.